Como cientistas mulheres inspiram crianças a se apaixonar pela ciência
Cesar Gaglioni
(10 de fev de 2023)
Para marcar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, o ‘Nexo’ ouviu quatro pesquisadoras sobre maneiras de despertar nos mais novos o interesse pelo conhecimento científico.
Marie Curie
Neste sábado (11/II/2023) é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data dedicada a destacar a importância do papel das mulheres na ciência e a promover a igualdade de gênero no setor.
A data foi proclamada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2015 com o objetivo de inspirar e motivar mulheres e meninas a seguirem carreiras científicas e tecnológicas. Segundo a instituição, a celebração é uma oportunidade para refletir sobre o passado, celebrar o presente e imaginar um futuro onde todas as mulheres e meninas tenham a oportunidade de alcançar seus sonhos e potencial na ciência.
Historicamente, a ciência tem sido dominada por homens, mas mulheres cientistas fizeram e fazem contribuições importantes em vários campos do saber.
Inspirar crianças a se apaixonar pela ciência é uma parte fundamental dos esforços para a igualdade de gênero na área, por mostrar que a ciência pode ser uma janela fascinante para o mundo e uma carreira em potencial para o futuro.
O Nexo ouviu quatro mulheres cientistas sobre como elas tentam inspirar crianças a se apaixonarem pela ciência e despertar o interesse no tema.
1) Alimentar a curiosidade
Laura Marise é farmacêutica, doutora em biociências e biotecnologia e apresentadora do canal de YouTube "Nunca vi 1 cientista"
"A criança já nasce com duas características muito únicas de cientistas, que são curiosidade e a vontade de aprender. Então ela iátem essa chama dentro dela e o que a gente tem que fazer é alimentar essa chama. A melhor forma de fazer isso é nunca ignorar uma pergunta de uma criança. Eu sei que muitas vezes é muito chato, porque tem a fase dos porquês, que tudo elas querem saber e nem sempre a gente tem as respostas, mas estimular e mostrar já vai fazer com que ela tenha um interesse cada vez maior." (Laura Marise).
2) Usar o bom humor
Fabrícia Almeida é física e doutora em astrofísica pela Universidade do Vale do Paraíba. Ela sugere o bom humor para despertar o fascínio das crianças pela ciência.
“A ciência pode ser divertida, dinâmica e alegre para todos que tenham curiosidade em descobri-la. Isso, claro, sem perder sua tecnicidade e veracidade. Agora, como despertar esse interesse em pessoas que nunca ouviram falar dela? Eu tenho uma receita: use o bom humor! Não tem nada melhor e mais gratificante do que ver as pessoas felizes e sorrindo enquanto aprendem algo novo. Isso funciona com os adultos e os adolescentes e muito melhor ainda com as crianças. Sair daquela seriedade ou até mesmo da zona de conforto de salas cheias de computadores ou de laboratórios com instrumentos mega modernos e levar a delicadeza do por que são feitas essas coisas e como elas melhoram e facilitam nossa vida podem ser as armas mais poderosas que temos para que todos tenham acesso à ciência e à informação científica. Assim, com o despertar dessa temática, envolver cada vez mais pessoas e futuros cientistas para o avanço e progresso da ciência. Sempre com muito bom humor!” (Fabrícia Almeida - Física).
3) Explorar um interesse inerente
Camille Ortiz é bióloga e especialista de laboratório no Departamento de Bioquímica. Além disso, é mãe da Maria Luísa e da Carolina.
“Costumo pensar que as crianças nascem cientistas. Desde os primeiros anos elas observam o ambiente em que vivem e nos enchem de perguntas: por que chove, como se forma o arco-íris, por que o fogo queima e a mais temida - como eu fui parar na sua barriga? Essa curiosidade faz parte do desenvolvimento das crianças. Eles têm um interesse natural pelas coisas que os cercam, observam a natureza, os animais, os objetos e experimentam, testam e assim aprendem. O interesse pela ciência é inerente, só precisa ser explorado.”
(Camille Ortiz - Bióloga)
4) Experiências em casa
Danielle Dias Pinto Ferreira é mestre e doutora em neurociência pela Universidade Federal Fluminense. Trabalha como responsável técnica pelo laboratório do braço brasileiro do centro de bioanálise Invitrocue.
“Devemos aguçar a curiosidade delas. As crianças são curiosas por natureza, em vez de darmos as respostas para suas perguntas, devemos indicar o caminho para que ela mesma obtenha as respostas. Há diversas experiências que podem ser feitas em casa, sempre sob a supervisão de um adulto. Quem nunca plantou um feijão no algodão? Museus de ciências também são um ótimo programa para crianças. Durante a minha infância ganhei um microscópio de presente, talvez o meu interesse pela área tenha surgido nessa época.”
( Danielle Dias Pinto Ferreira - Neurocientista)
5) Ensinar a fazer perguntas
Livia Gouvêa de Carvalho Moura é mestranda em Linguística no Laboratório de Fonética e Linguagem da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
"Eu acredito que o interesse pela ciência é germinado na forma como apresentamos conhecimento para crianças no ensino básico. Tentar ensinar os diferentes temas menos como coisas dadas e mais como construções. Mostrar pelo menos parte dos processos pelos quais o conhecimento se constrói, ensinando-as a fazer perguntas sobre o mundo ao redor delas. A partir do momento em que a criança percebe que nada é tão óbvio quanto parece, entendendo a prática da ciência como resposta para suas próprias inquietações pessoais sobre o mundo, podemos introduzir a formação e a profissão de cientista como um caminho possível. Conversar sobre o ofício da ciência desde cedo também é muito importante, porque acredito que crescemos com essa ideia de que os cientistas são tão distantes de nós, fazendo coisas mirabolantes em seus laboratórios, e muitas vezes não sabemos sequer onde ficam esses laboratórios! Então visitar universidades, conversar com pesquisadores e pesquisadoras sobre seus afazeres, conhecer laboratórios de pesquisa de diferentes áreas do conhecimento, tudo isso importa muito para desmistificar a ciência e aproximá-la da realidade da criança, transformando-a numa possibilidade de formação!"
(Livia Gouvêa de Carvalho Moura - Linguista).
MULHERES QUE MUDARAM O MUNDO COM SEU TRABALHO NA CIÊNCIA
Hypatía, em grego antigo: Ὑπατία; Hypatía; nasceu em Alexandria, c. 351/370 – Alexandria, 8 de março de 415. Foi uma filósofa neoplatônica grega do Egito Romano. Foi a primeira mulher documentada como tendo sido matemática mulher na história. Aos 30 anos já era chefe da escola platônica em Alexandria, onde também lecionou filosofia, matemática e astronomia, além de se dedicar a pesquisa e chefiar a Academia e a biblioteca de Alexandria.
Hipátia de Alexandria
Hipátia de Alexandria é considerada a primeira mulher matemática da história. Nascida no ano 370 d.C., em Alexandria, no Egito, ela desenvolveu pesquisas em astronomia, física e filosofia. Ela foi brutalmente assassinada em 416, após os seus estudos serem descobertos por um grupo de cristãos. A sua pesquisa foi considerada heresia e ela condenada à morte.
Marie Curie
Marie Curie nasceu em 1867 foi Química e Física polonesa que dedicou a vida ao estudo da radioatividade. Ela foi pioneira no estudo do tema e sua dedicação era tamanha que a levou a adoecer devido à alta exposição à radiação. Os seus trabalhos são considerados pioneiros no estudo da Radioatividade clássica, além disso, ela descobriu os elementos Polônio e Rádio. Foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel e a primeira pessoa a conquistar duas vezes a premiação em áreas diferentes. Também foi a primeira mulher a atuar como professora na Universidade de Paris.
Katherine Johnson
Katherine Coleman Goble Johnson (White Sulphur Springs, 26 de agosto de 1918 – Newport News, 24 de fevereiro de 2020) foi uma matemática, física e cientista espacial norte-americana.
Ela fez contribuições fundamentais para a aeronáutica e exploração espacial dos Estados Unidos, em especial em aplicações da computação na NASA. Conhecido pela precisão na navegação astronômica informatizada, seu trabalho de liderança técnica na Agência Espacial se estendeu por décadas onde ela calculava as trajetórias, janelas de lançamento e caminhos de retorno de emergência para muitos voos de Projeto Mercury, incluindo as primeiras missões da NASA de John Glenn, Alan Shepard, o voo da Apollo 11, em 1969, à Lua e trabalho contínuo por meio do programa dos ônibus espaciais e sobre os planos iniciais para a missão a Marte. Em 2016, foi incluída na lista de cem mulheres mais inspiradoras e influentes pela BBC.
A história de Katherine Johnson inspirou o filme “Estrelas além do tempo”. Ela precisou quebrar dois preconceitos: de ser mulher na ciência e mulher negra como cientista. Katherine trabalhou na NASA durante 33 anos e ao longo da sua trajetória atuou como computador humano (realizando cálculos), foi promovida a líder de cálculos e participou de equipes que levou o homem à Lua e preparou o caminho para a exploração do planeta Marte.
Gertrude Bell Elion
A bioquímica estadunidense Gertrude B. Elion desenvolveu medicamentos utilizados no tratamento de leucemia, AIDS e herpes. Ela também foi responsável pela descoberta de novos princípios de quimioterapia. Devido à sua grande contribuição, ganhou o prêmio Nobel de medicina em 1988.
Chien-Shiung Wu, foi Física sino-estadunidense. Fez grandes contribuições para a física nuclear, trabalhou no Projeto Manhattan (que construiu a primeira bomba A)’, onde ajudou a criar o processo de separação do urânio em urânio-235 e urânio-238 por difusão gasosa.
Chien-Shiung Wu
Chien-Shiung Wu nasceu na China e se formou em matemática, mas atuou como pesquisadora na área de Física. Se mudou para os Estados Unidos com uma amiga para dar continuidade aos seus estudos. Se especializou e desenvolveu pesquisas no campo da Física, tendo sido convidada, em 1944, a participar do Projeto Manhattan, que produziu as primeiras bombas nucleares. Possui pesquisas importantes, tendo como destaque o trabalho sobre fissão nuclear, a criação do Modelo Padrão, e estudo sobre as mudanças moleculares na deformação da hemoglobina causada pela anemia falciforme.
“Eu me pergunto se os minúsculos átomos e núcleos, ou os símbolos matemáticos, ou as moléculas de DNA têm qualquer preferência pelo tratamento masculino ou feminino”.
(Chien-Shiung Wu)
Matilda Moldenhauer Brooks
Nascida em 1888, Matilda Moldenhauer Brooks formou-se na Universidade Harvard e atuou nas áreas de Biologia e Biologia Celular. Ela é bastante lembrada por ter descoberto, em 1932, o antídoto ao envenenamento por monóxido de carbono e cianeto.
“Quando um médico escreveu sobre tratamentos bem sucedidos utilizando o composto azul de metileno para tratar envenenamento por cianeto e omitiu o fato da descoberta ter sido realizada por Brooks, ela escreveu para o Conselho de Administração do Mount Holyoke College:
“[...] Parece-me que, na era moderna, quando há tantas mulheres capazes neste país, educadas e treinadas para a liderança, não apenas entre as mulheres, mas também os homens, que é uma decisão reacionária muito curiosa da parte dos que estão no poder, voltar ao costume antigo de considerar um homem como o único capaz de liderar um grupo de mulheres”.
Augusta Ada Byron
Augusta Ada Byron King, Condessa de Lovelace, atualmente conhecida como Ada Lovelace, foi uma matemática e escritora inglesa. Hoje é reconhecida principalmente por ter escrito o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina, a máquina analítica de Charles Babbage.
Filha do poeta Lorde Byron, Ada Byron é considerada a mãe da computação. Desde muito nova já demonstrava ter grande domínio de diferentes áreas e, aos 17 anos, se comunicava por cartas com Charles Babbage. Ele tentava desenvolver uma máquina analítica foi Ada quem desenvolveu a linguagem para o projeto. As notas escritas por Ada são consideradas o primeiro algoritmo criado para ser usado em um computador, por isso ela é considerada a primeira pessoa a programar em toda a história.
Fonte
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