BOTÂNICA PRÁTICA
EXSICATAS
EMBRYOPHYTA - METAPHYTA
A classificação de plantas em um sistema filogenético é o principal objetivo da Botânica Sistemática.
Para alcançar este objetivo, a Taxonomia baseia-se nas características clássicos da morfologia floral, mas também se utiliza de elementos oriundos da estrutura epidérmica (tais como pelos e tricomas), da palinologia, da anatomia e da fitoquímica, dentre outros.
A palinologia é a parte da botânica que estuda os grãos de pólen, esporos e outras estruturas com parede orgânica ácido-resistente, conjuntamente chamados palinomorfos. Sua maior área de atuação é o estudo da constituição, estrutura e dispersão do pólen e esporos, incluindo os exemplares atuais (recentes) e fossilizados. Os microfósseis orgânicos, também denominados de palinomorfos, incluem cistos de dinoflagelados, ovos de copépodes, cutículas vegetais, matéria orgânica amorfa, etc. Os grãos de pólen constituem a parede do micrósporo das plantas, mais o gametófito nela contido.
Os grãos de pólen são facilmente preserváveis em ambientes com pouca oxigenação. Por serem muito resistentes, eles mantêm as suas características externas (estrutura da exina) durante o processo de fossilização. Por essa razão, o seu estudo permite resolver muitos problemas que o estudo dos fósseis de plantas não resolve. A resistência dessas estruturas deve-se graças à deposição em sua parede externa (exina) de esporopolenina, um polímero orgânico bastante resistente.
Grãos de pólen visto ao microscópio de varredura
SEM (Scanning Electron Microscope)
(Dartmouth College Electron Microscope Facility)
Morfologia de uma flor mostrando as peças florais.
1) Pedúnculo se a flor for simples ou Pedicelo se fizer parte de uma inflorescência. 2) Receptáculo floral. 3) Ovário (dentro estão o(s) megásporo(s) óvulo(s).
4) Sépala (em conjunto forma o cálice). 5) Estilete. 6) Pétala (em conjunto forma a corola). 7) Filete (haste de sustentação da antera). 8) Antera (7+8 formam o estame da flor), cada lobo (teca) da antera possui dois sacos polínicos; o conjunto das anteras forma o Androceu. 9) Estígma (9+5+3 formam um carpelo); vários carpelos unidos formam um pistilo; o conjunto de pistilos de uma flor constitui o Gineceu.
Ao lado destes aspectos tradicionalmente valorizados em Botânica Sistemática, é interessante comentarmos um pouco sobre a Dendrologia (em grego: dendron, árvore e logos, estudos), que se vale de caracteres tidos como secundários por aquela ciência, tais como a cor, a estrutura e o aspecto da casca, o porte, a forma da copa e do tronco, a presença de acúleos e espinhos, de látex e outras exsudações, bem como da presença de odores peculiares em folhas, casca e outras partes vegetais.
A identificação botânica é necessária para dar subsídios a estudos taxonômicos; auxiliar na elaboração de trabalhos científicos sobre a flora de uma determinada região; determinar as espécies de um inventário; facilitar o conhecimento de plantas medicinais e tóxicas com o objetivo de melhor utilizá-las e controlá-las; armazenar exemplares de todas as espécies possíveis para identificação de outras espécies por comparação (Ferreira, 2006) e no nosso caso, em particular, aprendermos a montar um pequeno herbário urbano com o principal objetivo de enriquecer as aulas de botânica e conseqüentemente despertar nosso interesse maior pela conservação da “saúde” do ambiente onde vivemos, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida a todos.
EXSICATAS
Herbários são belos e podem ser muito úteis para ilustrar nossa aula de botânica. Herbários tornam-se ainda mais interessantes se os próprios alunos coletarem as amostras de plantas (seja no quintal de casa, no jardim da escola ou numa excursão com este propósito) e ao fizerem suas próprias exsicatas (Wiggers e Stange, 2008)
Valor: DEZ
Materiais necessários
2 retalhos de madeira do mesmo tamanho (ou duas grade de madeira), com furos nos 4 cantos (um pouco maior que o tamanho A4)
(para construirmos a prensa botânica)
4 parafusos, 4 arruelas e 4 porcas tipo borboleta
papelão (muito papelão)
jornal (muito jornal)
amostras frescas de folhas e flores
ficha impressa com informações da exsicata
linha, agulha, ou cola branca
Procedimento
1) Sobre a base de madeira da prensa, coloque uma camada grossa de papelão (duas ou mais lâminas de papelão) e uma camada de jornal.
2) Espalhe o material a ser herborizado sobre o jornal, aproveitando o espaço disponível da melhor forma possível. Evite sobrepor o material biológico.
3) Arrume as folhas e pétalas para que fiquem bem visíveis, não será possível mudar sua posição depois de secas. Evite colocar na mesma camada folhas/flores de espessuras muito diferentes.
4) Cubra o material com mais uma camada de jornal e lâminas de papelão, e repita o processo até atingir a altura da prensa (ou seja, a altura dos parafusos, deixando alguns centímetros para poder rosquear).
5) Feche a prensa e coloque os parafusos. Aperte os 4 parafusos por igual, deixando a tampa da prensa nivelada.
6) Guarde a prensa em local seco e arejado. O tempo necessário para o material secar varia conforme as condições de temperatura e umidade. Geralmente 3 meses são suficientes. Uma maneira de acelerar o processo é trocar os jornais e o papelão semanalmente, mas o procedimento é delicado e há o risco de estragar as amostras de plantas.
7) Após o período de secagem, abra a prensa e retire as plantas secas com cuidado.
8) Utilize papel sulfite ou cartolina para montar cada exsicata. Uma das técnicas mais utilizadas para prender o material herborizado ao papel é costurar com agulha e linha. Alguns herbários utilizam fitas de papel autocolante para o mesmo fim. (Se as exsicatas estão sendo feitas apenas para fins didáticos e não serão armazenadas por muito tempo, nem utilizadas para fins científicos, pode-se colar com cola branca.)
9) Anexe uma ficha contendo os dados da planta à exsicata. Para ganhar espaço, cole apenas a lateral da ficha e deixe o restante solto.
10) As exsicatas devem ser armazenadas em local seco e arejado. Fungos são seus maiores inimigos, certifique-se que o material herborizado esteja bem seco. Evite guardar as exsicatas em plásticos. Prefira envelopes ou pastas de papel.
É mais fácil identificar as plantas ao vivo ou no laboratório observando sua morfologia, antes do processo de herborização. Então, ao colocar as amostras na prensa, anote no jornal logo abaixo o nome da espécie. Ou anote uma numeração e faça as anotações em uma folha em separado.
As informações contidas na ficha anexada à exsicata variam conforme os objetivos para os quais o herbário está sendo feito. Se é apenas uma atividade introdutória para crianças, basta colocar o nome popular da planta, o nome da criança que a coletou, etc. Se a ideia é montar um herbário mais detalhado, que possa servir como material de referência, vale a pena registrar dados como os da ficha abaixo. Outras informações que também podem ser úteis são o nome da pessoa que fez a coleta, as cores originais da planta antes de passar pelo processo de herborização (incluindo um registro fotográfico, em arquivo digital), a altura da planta, a espessura do tronco, se haviam flores e/ou frutos na data da coleta, etc…
COMO FAZER UMA EXSICATA
https://www.youtube.com/watch?v=USf3vv7ggHk
COMO FAZER ESQUELETOS DE FOLHAS
https://youtu.be/uDseW_pAWCk
Para que identificar
Segundo Wiggers e Stange (2008) a identificação botânica se faz necessário para a obtenção de diferentes informações sobre espécies que possuem diferentes características e particularidades individuais.
A identificação científica correta das espécies é essencial para o desenvolvimento das ciências básica (desenvolvimento de teorias) e aplicada (aplicação de teorias às necessidades humanas).
É importante lembrar que os inventários florestais, baseados em nomes vernaculares (populares), provocam muita confusão; essas denominações variam bastante de uma região para outra e, em muitos casos, dentro de uma mesma região, dependendo de quem as utiliza.
Porém, a nomenclatura científica, expressa em linguagem universal, denomina a mesma planta, com um único nome, em qualquer lugar do Planeta; oferecendo, dessa forma, maior segurança para os usuários.
Por essa razão, a nomenclatura científica permite o diálogo entre cientistas de diferentes países e regiões, promovendo acesso às informações necessárias para o desenvolvimento de pesquisa, não só na botânica, mas em diversas áreas do conhecimento (Da Silva, 2002).
Como identificar
Identificação é a determinação de um táxon, como idêntico ou semelhante a outro já existente, utilizando-se a comparação com material de herbário devidamente identificado, as chaves dicotômicas de identificação e a literatura específica.
Durante o processo de identificação, podem ser encontrados táxons novos para a ciência, os quais devem ser descritos de acordo com as normas preconizadas pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica (CINB).
A identificação por chaves dicotômicas é muito complexo e exige grande conhecimento sobre a morfologia vegetal, sugerimos então a comparação com material de herbário, onde podemos ter o auxilio de museus ou coleções botânicas.
No herbário, o processo de identificação mais comum é por meio de comparação; neste processo a amostra recém coletada é comparada com outra anteriormente coletada e identificada. Se todas as características assemelharem-se pode se determinar o nome da amostra. Por exemplo o Museu Botânico, no Jardim Botânico de Curitiba, possui um herbário de 310 mil plantas, mundialmente conhecido, em número de amostras é o quarto maior do Brasil e possui o maior número de gêneros e famílias de plantas no Brasil. Foi criado em 1965, a partir da doação do acervo pessoal do botânico Gerdt Hatschbach. Sua primeira sede funcionou no Passeio Público. Somente em 1992 o Museu foi transferido para o Jardim Botânico. (Contato: (41) 3264-7365, Herbário: 3362-1800).
A classificação é a ordenação das plantas em níveis hierárquicos, de acordo com as características apresentadas, de modo que cada nível reúna as características do superior.
Por exemplo, as espécies de um determinado gênero devem apresentar as características ou traços particulares desse gênero; os gêneros de uma determinada família devem apresentar as características ou traços particulares dessa família e assim por diante.
Quando se denomina uma planta já descrita, está ocorrendo determinação das características comuns a outra já catalogada, está se fazendo uma identificação, enquanto que, quando se procura localizar uma planta ainda não conhecida, dentro de um sistema de classificação, está ocorrendo classificação (Da Silva, 2002, Wiggers e Stange, 2008).
Metodologia de coleta de angiospermas
Procedimentos
Anotações de campo
O primeiro passo é anotar as informações a respeito do coletor, ou seja, seu nome e número de coleta, a data do procedimento e o nome dos coletores adicionais, quando for o caso.
A seguir, devem ser registradas informações inerentes à localização da planta da qual se deseja coletar amostras: usando-se o GPS, anota-se a latitude, a longitude e a altitude.
A seguir, o nome do país, do estado, do município, do distrito e da localidade onde está sendo realizada a coleta; é necessário anotar, também, alguns pontos como referência à localização da planta que facilitem um possível retorno ao local. Essas anotações devem ser tomadas de maneira que outra pessoa possa localizar a mesma planta, caso necessite observá-la posteriormente.
Importantes também são as informações acerca do ambiente, ou seja, tipo de solo e de vegetação predominante.
Finalmente, devem ser anotadas as características da planta que não serão observadas após a desidratação do material, tais como: altura e circunferência da planta, hábito, forma da árvore, disposição dos ramos, forma do tronco, tipo de base do tronco, aspectos das sapopemas, características da casca, exsudação, coloração das flores e tamanho, textura e cor dos frutos, tipo de odor, denominação local e uso.
A altura pode ser expressa com valores aproximados, utilizando a haste do podão, com comprimento conhecido, para auxiliar na mensuração. A circunferência (ou o diâmetro) deve ser tomada à altura do peito (CAP ou DAP), ou seja, a 1,30 m do solo; caso haja sapopema (raiz tabular) que ultrapasse 1,30 m de altura, faz-se a mensuração logo após esta.
O hábito ou forma de vida das plantas, adaptado de Ferri et al. (1981), Font Quer (1993) e Fernandes (1998), pode ser:
• Árvore – vegetal lenhoso com mais de 5 m de altura, apresentando tronco ramificado na parte superior formando a copa.
• Arbusto – vegetal lenhoso de 3 m a 5 m de altura, com um pequeno tronco, apresentando ramificações desde a base.
• Subarbusto – vegetal lenhoso de 0,5 m a 3 m de altura, com muitas ramificações herbáceas ao longo de todo o caule ou formando um emaranhado originando uma touceira.
• Erva – vegetal ereto, de pequeno porte, contendo pouco tecido lenhoso.
• Liana, cipó ou trepadeira – vegetal com sistema caulinar incapaz de se sustentar, necessitando se enrolar em um suporte ou desenvolver órgãos de sustentação, como gavinhas e raízes grampiformes, para garantir sua fixação ao suporte.
• Rastejante – vegetal que se desenvolve paralelamente à superfície do solo, no qual se apoia.
O caule quanto à forma pode ser:
• Acanalado – irregular, apresentando projeções e reentrâncias longitudinais, em forma de canais (Figura 7A).
• Abaulado – irregular, convexo (Figura 7B).
• Foraminado – com cavidades (Figura 7C).
• Tortuoso – irregular, sinuoso (Figura 7D).
• Cilíndrico – alongado, reto, aparentando rolo (Figura 7E).
• Cônico – base bem mais larga do que o ápice, aparentando um cone.
Tipos de caule
(A) tronco acanalado de pitaíca – Swartzia polyphylla DC. (Leguminosae - Papilionoideae); (B) tronco abaulado de sumaúma – Ceiba pentandra (L.) Gaertn. (Bombacaceae); (C) tronco foraminado; (D) tronco tortuoso; (E) tronco cilíndrico com caulifloria de Swartzia sp. (Leguminosae-Papilionoideae).
Identificar plantas pode ser um desafio, mesmo para os professores experientes. Seguem alguns links de livros gratuitos que podem ajudar:
Manual de Procedimentos para Herbários (Editora Universitária UFPE)
(Ministério do Meio Ambiente)
Bibliografia
BACKES, P. & IRGANG, B. Mata Atlântica: as árvores e a paisagem. Instituto
Souza Cruz, Editora Paisagem do Sul, 2004.
FERREIRA, G. C. Diretrizes para coleta e identificação de material botânico.
Belém-PA: Embrapa, 2006.
INSTITUTO DE BOTÂNICA (São Paulo). Técnicas de Coleta, Preservação e
Herborização de Material Botânico. 1984. 61p. (Manual N0 4).
LONGHI, R. A. Livro das árvores: árvores e arvoretas do sul. Porto Alegre: L&PM,
1995. 176p.
MARCHIORI, J. N. C. Elementos de dendrologia. Santa Maria: Ed. UFSM, 1995. 163
p.
MARCHIORI, J. N. C. Dendrologia da Gimnospermas. Santa Maria: Ed. UFSM,
1996. 158 p.
FERRI, M. G.,
MENEZES, N. L. de. & MONTEIRO, W. R. Glossário ilustrado de
botânica. São Paulo: Nobel, 1992. 197 p.
MARTINS-DA-SILVA, R. C. V. Coleta e identificação de espécimes botânicos.
Belém-PA: Embrapa (Série Documentos, 143), 2002.
MODESTO, Z. M. M., SIQUEIRA, N. J. B. Botânica. 7. ed. São Paulo: EPU, 1981.
STANGE, C. E. B. Ficha Catalográfica para Diagnose e Identificação
Botânica para o Ensino de Graduação em Ciências Biológicas. Obra não
publicada. Fundação Biblioteca Nacional, Registro 410.569, Livro 766,
Folha 229. Rio de Janeiro, RJ, 18 de setembro de 2007.
TAKEDA, I. J. M. & FARAGO, P. V. Vegetação do Parque Estadual de Vila Velha.
Curitiba: UFPR, 2001. volume 1, 419 p.
World Wide Web: http://www.curitiba-parana.net/parques/jardim-botanico.htm